Faça-te um bolo
A vida em meio termo é uma desgraça
Faz d’alma o fanatismo do inquieto
Faz dela mesma um descaso concreto
Ou penitência que Deus disse: faça!
Cacei entre os semblantes minha raça
Pelos coretos do jardim secreto
Éramos um, como o branco no preto
Era a farinha a transformar-se em massa
Quão obstante essa união sozinha
É dessa vida que é também vizinha
Chorando risos como quem quer colo
Como o enlevo de gozos distantes
Leve-me ao forno por alguns instantes
Que logo logo tornarei-me um bolo.