Suíte da paixão
Incêndio
Em fuga desesperados,
acorrem dúvidas, medos, desejos.
À boca irrompe estafado,
um carbonizado beijo
Na ponta da língua, ele exita...
Pula, não pula, pula...
A multidão de nervos se agita,
o sangue, desnorteado, coagula.
Estarei condenado às cinzas,
se um mar de lágrimas é impotente?
Ou estarão em seus olhos, a saída
que me faça sobrevivente?
Atordoado, o coração reclama:
-Salve-me! Meu peito está em chamas!
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Gozo
Pele macia de um branco róseo,
exploro intenso, ao som de mútuos solfejos.
Ante os mamilos, energia e ócio
intercalados por apaixonados beijos.
Em tuas coxas, desbravo o caminho.
Tendo o olfato por guia ao que não vejo.
Faro canino, demarco em redemoinhos
com a língua úmida, a fonte do desejo!
Intumescido avanço decidido
a desbravar o abismo do teu ser.
Enebriado percorro o percorrido,
por tantas vezes, nos atalhos do prazer.
Que encontro arfando, louca alcateia...
Deveras longo, o fim desta odisseia!
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Jardim dos arrependimentos
Na noite longa por companhia,
tua ausência não é alforria.
Se a dor pesasse em libra,
sobre meus ombros, toda Coimbra.
Agora, que a mim se oferece tudo,
na mão vazia, não guardo nada.
Vivo de gritos mudos,
lembranças de outra estrada.
A culpa em mim floresce.
Só sei doar-me à vida,
onde você fenece.
Sou todo aceno de partida!
Jardim mórbido dos arrependimentos
Semeio palavras, as levam o vento.