TARDE DEMAIS, VIDA
Ah! Caro me custa entender-te, e quanto,
Vida, que de dor em dor vens me trazendo parte;
desgasta-se a idade e me arrasto, destarte,
e o mais ledo prazer peregrina em pranto.
Molestou-me o Amor, talvez por alcançar-te,
injuriou-me como quis o Anjo Encanto;
o abandono em mim faz inveja ao triste
e a Fortuna sussurra-me aspérrimo acalanto.
Eu a seguir-te e foges doidamente;
queria que fosses das amantes a ternura
a embalar-me em ondas dadivosas.
Mas, ai de mim! Agora sei tardiamente:
só um poeta suporta as amarguras
inda as transforma num buquê de rosas.