SONETO AO INVERNO

Lá fora a friagem recomenda ócio e cama.

Debaixo das cobertas o corpo concorda;

O sol franzino colocou o seu pijama,

Desgrenha tudo – o galo nem sequer acorda.

Sobre o bidê, de capuz dorme o Neruda,

O minuano assovia agouros no oitão,

Parece neve a chuva fina que se gruda

Pela copa desnudada do jambolão.

O céu tinhoso se esqueceu da cor azul

E bordou de cinza a bainha aqui do sul

Arrastando-se campo afora em saia armada.

Sequer o bem-te-vi abriu o bico ao canto

O dia será de agasalho e de acalanto,

Ficar de molho e com o olho em sua amada.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 24/05/2016
Código do texto: T5645296
Classificação de conteúdo: seguro