SONETO AO INVERNO
Lá fora a friagem recomenda ócio e cama.
Debaixo das cobertas o corpo concorda;
O sol franzino colocou o seu pijama,
Desgrenha tudo – o galo nem sequer acorda.
Sobre o bidê, de capuz dorme o Neruda,
O minuano assovia agouros no oitão,
Parece neve a chuva fina que se gruda
Pela copa desnudada do jambolão.
O céu tinhoso se esqueceu da cor azul
E bordou de cinza a bainha aqui do sul
Arrastando-se campo afora em saia armada.
Sequer o bem-te-vi abriu o bico ao canto
O dia será de agasalho e de acalanto,
Ficar de molho e com o olho em sua amada.