Julgamento a meu passado
Vem-me a imagem de um cão em seu lamento,
co'os pêlos que mantêm muito aderido
o pó que há vários tempos, é sabido,
na brisa acompanhou seu passo lento.
Estradas não há mais — tu ao relento
dormias, cão vadio —, e o torto olvido
dissipou o que foste. Corrompido,
o pó no pêlos é o teu pensamento.
Tenha eu faculdade de reter
tudo quanto vislumbro e tenho apreço
nas capilaridades da memória.
Pois quando o sol dos moços fenecer,
velhas recordações serão começo
do veredito meu à minha história.