a flor
~~
a flor que ao meu lábio a roçar se atreve
deixa rastos de singular perfume,
que dá fúrias de mordiscar-lhe o lume
de um rubro, ora grave, ora leve.
sabe ao seu beijo, que não provei ainda,
e se provei, foi em sonhos molhados
pela chuva qu'entorna dos telhados
da vontade, tirana, que não finda.
seja lírio, dália, rosa ou açucena
toda a boca por ela se envenena,
toda a boca deve tributo à fome.
a flor, esse cálice de sangue louco
que, por muito que o sorva, sabe a pouco,
e, pouco a pouco, é ela que me consome!
~