A semente do instinto
Todo aroma e perfume, almíscar e lavanda;
toda peça de prata argêntea e diamante;
todo canoro som da voz mais triunfante;
toda brandura, enfim, que a seda mais demanda:
a cor, a substância, a melodia branda
entorpecem o Senso e fazem que levante,
vinda do abismo largo e estranho, bem distante,
a consciência o prazer, que até a razão desanda.
Todo humano labor não conquista morada
no espírito, onde há dor e miséria aviltada,
onde germina o grão jamais da alma extinto.
O ressequido grão, tão fétido e abjeto!...
Que pode mascará-lo? A cor, a forma? Exceto
a morte, nada acalma o torpe humano instinto.