Humano
(F. M. B)
Abre sem dó, querida, este meu peito:
É tua esta matéria que ali pulsa.
Toma nas mãos esta carcaça avulsa
E faz-me, enfim, um coração direito.
Sou teu e sigo este caminho estreito
Que a névoa encobre rumo à dor convulsa
E a vida em fardo a todos nós expulsa
Como a quem livra-se de algum defeito.
Conheço, pois, o andar deste cortejo,
Deste balé de abutres que vigia
Nosso destino trágico em festejo
Mas toda a lógica e tudo que eu sabia
Desfaz-se ao ver-te e como num lampejo
Eu sinto a noite transformar-se em dia.