há dias assim
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há dias que não é sol mas adusto helianto
com flava coroa coberta de fuligem.
dias a dor, quando a alma cede à vertigem,
cai num caos de pesar, de luto, de pranto.
há vultos ceifando carnes em qualquer canto,
à sombra das sombras que a sangue se tingem.
há dentes que mentem; há gentes que fingem
ser gente, e de um crápula fazem um santo.
há dias prenhes de bruxas e loucos à solta
que trazem infernos e o Diabo por escolta,
dias tredos, maus, iluminados a carvão.
há dias que são noites, relento pelas veias,
quando aram a nuca aranhas e centopeias,
e os crânios dos mártires rebolam no chão.
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