Mensura efêmera...

“Contra o tempo e em poesia recompostos, somos todos poetas, natos poetas”

( Jorge de Lima )

Ó relógio destituído pelo tempo!

Duas mil e uma noites de agonia

Nenhuma fronteira aberta pelo dia

Mas, crocitam os corvos ao relento

Ora, paços, parcas e procelas

Vossas mãos puxando o arado

Aos olhares do coveiro parado

Ó urubu pousado na cancela!

Olhemos com órbitas profundas

Os veleiros na lama do monturo

Todos cavalos-de-fogo no jardim

Logo, projeto do poço-sem-fundo

Uma ponte invisível para o futuro

E, tudo sem meio, início nem fim

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Para o deleite de todos eis "O relógio" de Charles Baudelaire; mandado pelo meu amigo Poeta Carioca.

Relógio! deus sinistro, assustador, indiferente,

E cujo dedo nos ameaça a nos dizer: Recorda!

A vibradora Dor, que, no medo transborda,

Em teu coração irá se encravar brevemente;

O prazer é uma bruma a buscar a amplidão

Tal sílfide que morre além da onda mais fria;

Cada instante destrói um pouco da alegria

Que a cada homem se deu para toda a estação.

Por hora mais de três mil vezes, o Segundo

Murmura: Lembra então! Com sua voz sonora

De inseto, Agora diz: Olha que eu sou Outrora,

Bombeou a minha tromba a tua vida, ó imundo!

Remember! Lembra então! Esto menor! em coro

(Não ignora um idioma a goela de metal)

O minuto é uma ganga, ó frívolo mortal,

De que não deixarás de extrair todo o ouro!

Lembra então que este Tempo é um jogador atento

Numa lei de ganhar, perene e sem trapaça.

Lembra então como a noite aumenta e o dia passa,

A clepsidra é vazia; o abismo está sedento.

Mas o divino Acaso, ou bem cedo ou mais tarde,

Ou a Virtude augusta, esposa virginal,

Ou o próprio Remorso (Oh! o abrigo final!)

Ou tudo te dirá: "Morre, é noite, covarde!"

Gilberto Oliveira
Enviado por Gilberto Oliveira em 15/04/2016
Reeditado em 17/04/2016
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