Soneto de amor unilateral
Lacedemoniamente, assim te adoro:
Na paz plena de amantes olvidados
Que, tácitos, acedem aos seus fados
De afeto mais pacífico, insonoro.
Não pense que eu precise de cuidados;
Que ao ver-te de soslaio logo coro;
Que aqui tua presença tenha foro.
Esqueça teus palpites tão errados.
Não faz, porém, silêncio amor mais fraco
Que se eu de adulações a ti atacasse
Como quem faz lisonja tosca e rude.
Estimo-te à distância e não me atraco,
Como faria a ti, se te adorasse
O tanto quanto adoro a solitude.