morto em construção
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não há asas que ao meu dorso se cimentem
por milagre; nem nimbo qu'engrandeça
a coroa velha na minha cabeça.
dos ímpios sou a voz; dos que mal sentem
dádivas celestiais. mastigo o barro
das frias certezas, do Destino frio.
vai-me o sangue por caminho sombrio,
expulso um túmulo em cada escarro.
sou um morto em construção. amortalho
o meu corpo restolho, d'espantalho
que vela terra apenas, mal lavrada.
mas, por graças que não sei revelar,
amo, sem contudo querer amar,
a Vida, que é o Tempo em cavalgada.
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