Divina companhia
 
Sou a tua roupa usada, já esgarçada de há tanto contigo
Incontinente te acompanho envolvendo estranho
Ao hipotético corpo surreal como nos sonhos
Que guardam em si certas partículas de que sou constituído
 
Sou teu conhecido chinelo, teu tênis, teus livros
Teus gestos ao forrar a cama teus odores karmicos
Eu te vejo e sinto os pesos densidades e espaços
Nos teus trajetos diversos flutuo e te abrigo
 
Meu poder só é superado pelo teu estado
Nos bloqueios em que semeias reticentes fluídos
Mas observo de longe se haverá perigo
 
Não importa muito o tempo mas me contradigo
Se a condição da função é ser só um anjo amigo
Porque tenho a tentação dos materializados