Desperdício
Desejar-te já não abranda o fogo.
Ergue-se insistente a lasciva chama.
Não há mais água que se roube à rama,
já é deserto o campo de meu jogo.
De nada vale qualquer novo esforço.
Se inda flameja o que nunca foi brasa.
Se inda é carne o que quisera osso.
Viceja inútil ante a cova rasa.
Se em meu sonho, eu permaneço vivo,
nos olhos teus, o meu olhar eu crivo.
Imagem que a realidade turva.
Quando a nublada manhã, acorda o dia,
aquieta em mim arroubos de ousadia.
E desperdiço lágrimas na chuva.