OBITUÁRIO
OBITUÁRIO
Morreu ontem à noite quem eu fui,
A zero hora, na minha própria casa.
Fora encontrado só e, embora jaza,
A causa de mal súbito se intui.
Da memória -- ou miséria -- alguém conclui,
Que santo sem auréola, anjo sem asa...
D’esta para melhor em cova rasa,
Pois nada mais e além de mim se argúi.
Findos já os reveses e os esforços,
Entendo não levar senão remorsos
D’uma vida vivida como tantas.
Deixo uns versos que pude ter sabido
Para adentrar as portas vãs do olvido.
Enfim, pôr minha voz n’outras gargantas.
Betim - 30 03 2014