esqueleto
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o meu esqueleto. que nele penduro
a pele áspera e o sangue ferrugento.
trespassam-no aços do gélido vento
que vem das catacumbas do futuro.
hirto, como a proa que arpoa a tormenta,
ou ao chão curvado, num ângulo obscuro.
eixo da vida que à sorte costuro.
ó, fios de coragem! ó, teia agoirenta!
é farrapos a carne em derredor.
recreio d'unhas. argila ao escultor,
ao Tempo, que molda-me à facada.
e, no reinado dos eternos poentes,
o chão, voraz, parece que tem dentes,
e a alma é um grito, um frémito, um nada!
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