O MORITURO

O MORITURO

O que está a morrer saúda a vida.

Têm-lhe o último desejo por sagrado

E realizam-no -- ou não -- enquanto o Fado

Impõe-nos sua súbita partida.

Há tanto n'esse olhar de despedida,

Que mal se lhe percebe algo de errado.

Na morte, todo mundo é bom, coitado

Ou justo!... E toda culpa redimida...

Ele saúda a vida porque a perde.

Quanto a tudo o que fez, bem ou mal, nada

Tem mais sentido fora já da estrada.

Mas sonha: Um jardim amplo e muito verde;

Onde amigos, amadas... Nenhuma ânsia.

Somente, a vida. A vida em abundância.

Betim - 22 05 2011