soneto deposto
~
edifiquei-te mil vezes, mil vezes tantas
brioso em meu labor, bêbedo, ufano
dei-te vida com voz, com canto sobre-humano
dei asas ao céu d'amor que'inda cantas
eras do dia, eras da noite soberano
or'amavas pastoras, ora eram infantas
e vertias, pingo a pingo, por melífluas gargantas
e, tu, santo não eras, nem tampouco leviano
sim, eras rei! mas impunhas alto tributo
o teu punho de leis era árduo, absoluto
que noites muitas vi-me prostrado ao chão..
agora, deserta o real manto pela lama
que, que o ceptro já morde e ferra a fama
e o trono, volúvel, transforma-se em caixão.
~