o retrato
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a alma dói-lhe de sabê-la mui distante
aramada, e nua, qual ave em gaiola
que canta ao ritmo de plangente viola
tais mágoas, ninguém, ninguém há que cante
lembra-se, de simples coisas: cantadas
e risos qu'eram praias d'areias sem fim..
lembra-se, mescla de cinza e carmim
mescla de crepúsculo e madrugadas
assim a tem, em retrato, brumosa
adornada com pétalas de rosa
transmutada em cadáver vegetal
e cada vez que fixa nela o olhar
quando a vidraça parece estalar
sente, a lâmina fria do punhal
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