NAS ÁGUAS DO NOSSO ODIANA * A borboleta morta
O teu sorriso vem e minh’alma remoça.
Ai que outra primavera eu quero e em mim invento!
A tua boca vem e a minha boca adoça…
e eu quero a vida inteira só neste momento.
Quando te fores, vai, mas leva-me contigo
ou deixa-me morrer sem mágoa nem auxílio…
Que seja a tua boca o meu letal castigo,
nunca a saudade dela o fel do meu exílio.
Que a tua boca seja o meu último instante,
a última canção que escreva e que te cante
e o som da minha voz se evole no infinito
Depois, ora depois, talvez algum poeta,
encontre numa flor a sedução inquieta
da borboleta morta aos pés de mais um mito.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 14 de Janeiro de 2016