TEMPO DE SORTILÉGIO * O sonho impossível
Havia nele um sonho por nascer.
Um sonho que sofria e lhe doía.
Um rasto só de estrelas a correr
que cada amanhecer lhe desfazia.
Só quando as noites eram de luar
ou quando as nuvens todo o céu cobriam
o sonho consentia se ausentar.
E nele astros e céu também dormiam.
Ausente o sonho, o sono lhe tardava.
Da sua insónia a dúvida suspensa.
Ah, que obsessivo sonho o assaltava?
Naquela derradeira noite, o frio
doía-lhe na alma, frio intenso!,
e adormeceu nos braços do vazio.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 11 de Janeiro de 2016.