LESA-DIVINDADE

LESA-DIVINDADE

Sísifo há-de rolar a sua rocha,

Eternamente, p'la montanha acima.

E o misterioso afã que em vão o anima

O faz recomeçar, mão sobre a coxa...

Que importa a face exangue, a olheira roxa?

Se o suor do nada é matéria-prima!

Segue sabendo que o esforço mima

Exato àquele que lhe apaga a tocha.

Os seus trabalhos devem continuar

Até que os deuses morram de pesar,

Quando esquecidos por tal tirania.

A pena excede o crime presumido:

Traz mais que o corpo, o esp'rito combalido,

Servindo a inúteis sempre, noite e dia.

Contagem - 16 09 2012