SAMIRA & VIVIANE
Ou
«A voz dos inocentes»
Há mágoas que escorrem para além do Tejo,
Não adianta verter lágrimas de crocodilo,
Que a máscara da dor é um vergonhoso estilo
Neste insensível mundo sem alma nem desejo.
A voz dos inocentes contrasta no cortejo
Das infaustas misérias que medram em sigilo
Na vil lamentação de um silêncio tranquilo
E na justiça imberbe que age qual bocejo.
Nas traiçoeiras mãos da maternal demência
E nos paternais braços do polvo inconsciente
Vão em frágil canoa, Samira & Viviane…
Na aurora destas vidas já não há clemência
Nem a coragem de um abraço frente a frente
Que a todo o mundo justifique e não engane…
Para quando o rasgar das máscaras e cruezas
E um assumir daquela esperança que acalente
Um futuro risonho das crianças indefesas?
Ai, o tempus, o mores… ai, ó lei insana,
Quem te coloca o freio da errância desumana?
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA