Identidade
No soturno e mais pútrido cenário,
onde enfim decompõe-se a carne e os ossos,
eu bem sei que não passo de destroços
que ninguém beija estando em relicário.
Como se guarda o inútil num armário,
fui mandado para esses torpes fossos,
mesmo ainda no vivaz sangue dos moços
que têm todo um porvir alegre e vário.
E este frio esqueleto que no mundo
manteve erguido o corpo — a minha fronte —
é a comida que a terra mais consome.
Mas na podre vileza desse imundo
lugar, meu brio faz que então desponte
a bela flor que guarda ainda o meu nome.