Cântico às Estrelas
I
Estrela Perdida
“Se queres colher doce paz e descanso, Discípulo,
semeia com sementes do mérito os campos de
futuras colheitas. Aceita as dores do nascimento.”
— H. P. Blavatsky, "A Voz do Silêncio".
Eu sou, da vida, o escravo revoltoso,
Que no jazigo jaz, mais, mais e mais!...
Sou quem escuta o riso mais mordaz,
Aquele que não sente paz nem gozo...
... Aquele que arde em sombras! Ser ansioso,
Que tanto implora aos Astros ancestrais
Para ascender ao Templo que é capaz
De tornar tudo em Ouro majestoso!
Pois em meu peito não há um coração...,
Há uma perdida Estrela, a sós, que chora...
Que implora pela volta à Imensidão!...
... Há um astro que recorda-se de outrora...,
Que caiu de uma etérea Região
Onde viveu na paz da ilustre Aurora...
II
Martírio
Nas noites de mistério, volto ao Céu
Meus olhos... (Ah! que Paz profunda eu sinto!...)
Como me encanta vê-las, no Recinto
Astral, ardendo na Luz mais fiel!
“Minhas irmãs... Que angústia mais cruel!”
Digo a elas... “No lutuoso labirinto
Que hei de viver, o bem eu só pressinto
Ao vê-las nesse vago, escuro Véu!”...
Mas por quê, dentre tantas almas, eu
Fui o escolhido para aqui viver,
Longe de casa,... nesse exílio meu?
Por que sou eu o enfermo, o débil ser?...
... A Estrela que caiu, que se perdeu,...
Que vive na ânsia de, além, renascer!?
III
Sangue Fraterno
... E rezo e oro, para que o Instante
Da salvação suprema venha a mim...
Suplico pela Hora em que, por fim,
Subirei toda a Altura deslumbrante!
Vivo a sonhar que um Raio rutilante
— Raio do Renascer — conduza, enfim,
Minh’alma até as filhas de Elohim...
(... Que além descansam na amplidão adiante!)
... Pois corre em mim o sangue das Estrelas!
... E como dói! Que dor! Ah, que tormento
Saber que ao meu redor não posso tê-las!
... Será que ao menos ouvem meu lamento?
“Respondam se me escutam, oh, Donzelas!...
Reabram a Senda ao tão Eterno Alento!...”
IV
Na Branca Hora
... Quando será que, enfim, reviverei
Na angelitude da mais Branca Hora?
Quando ouvirei, de novo, o Som que aflora
No coração do alvíssimo Astro-Rei!?
Não sei, não sei!... Pois bem... se aqui eu hei
De habitar..., se minh’alma (que só chora!)
Não deve entrar no Azul Repouso-afora
... Respeitarei então essa atroz Lei!
... Mas ouçam, Seres e Astros que venero:
Retornarei ao Lar de astrais Embalos,
Na Branca Hora do fulgor sincero!...
... Na Branca Hora, quero que seus halos
Encham-me por completo! Como quero
Senti-los perto!... Como quero amá-los!
V
Alma sem Sorte
Ergam-me os arcos-íris siderais,
Sobre a Rota do eterno, etéreo Éden!...
Levem-me aos Lares que a alva Fé concedem...
... Ouçam, do Firmamento-além, meus ais!
Ah! Deem-me as Chaves que abrem os portais
Dessa Estação final!... Vai!, me embebedem
Com a Alvura da qual Vocês precedem...
— Com os mais raros Brilhos primordiais!
Ouçam a prece de uma falecida
Alma que em vão vagueia a sós, sem sorte...
Desperta a Luz do infértil ser sem vida!...
... Ah! sinto ardores, ânsias... quero a morte!
Desejo uma alma em Paz e renascida...
... Sou astro que caiu... sem sul, sem norte!
VI
A Palavra
... Quando o martírio meu irá findar!?
Quando ouvirei, de novo, as vozes Delas!?
... Quero deitar no seio das Stellas,
Ah!... Como quero haurir o célico ar!
De longe as vejo — nesse alvo, alto Altar...,
Vejo-as daqui, acesas como velas!
... E sonho, e rezo, e imploro para que Elas
Façam a Luz de outrora retornar!
...! “A Nossa Luz está viva em você!
Somos os mesmos — todos! — Filhos do Um…
— Do Sopro Eterno que nunca se vê!”
... Escuto, na sonhada Hora incomum,
As vozes que aguardava... “Ouça: Crê
Nos planos Dele... Somos todos um!”...
VII
“Nosso brilho é o teu brilho!”
... Que beatitude sinto ao entendê-las!
Que encanto ouvi-las tão de perto, enfim!
Vejo-as agora próximas a mim,...
... Ah! Sinto o olor de incenso das Estrelas...
Lembro das Luas tão lustrais, singelas...
Recordo os Lótus dos Jardins sem fim,
... Os tempos que vivi lá donde vim!
... “Nosso brilho é o teu brilho!” dizem Elas...
Ah! Digam: posso, ao menos, abraçá-las!?
... Posso eu entrar no Céu do Amor fraterno
E enfim sentir o brilho das Opalas!?
... “Aguarde... Tu que sofres nesse inferno,
Em um Momento místico, as mil alas
Passarás, rumo ao Lar do Hino Eterno!”
VIII
Ânsias
Que purificadora, pura Paz...,
... Que êxtase sinto, enfim, após ouvi-las!
Que ânsia de entrar no alvor de Luz tranquila,
Queima em minh’alma, mais e mais e mais!...
... Astros-irmãos, tão níveos e imortais;
Sei que inda irei subir às raras Vilas,
Sei que entrarei, ainda, nas mil filas
Às mais astrais e castas Catedrais!...
... E quando a Hora, enfim, vier a mim,
Dormirei entre a gloriosa Rosa
Sorvendo o bálsamo estelar sem fim...
... Ah! Vestirei a Luz mais luxuosa
Da angelical auréola de marfim,
... E subirei pr'onde a Alma ri e goza!...
IX
O Sacrifício
... Degraus e mais degraus irei subir,
Numa espiral de Sonho iluminado!
Quero ascender ao Reino do El-Dorado...
... Cintilar entre as Horas do porvir!
Mas sei que não é essa a Hora de ir
Voando como um Anjo sem pecado...
Bem sei que hei de aguardar o mais Sagrado
Instante de haurir esse alvo Elixir...!
... Mas se hei de estar vivendo na ruína,
Eu viverei sonhando com o Sono
Astral do Templo que no além fulmina...;
... Se hei de sofrer na Cruz d’um abandono,
Sofrerei na ânsia d’Hora mais divina:
... A Hora de enfim subir ao alvo Trono!
X
O Grande Dia
“O Dia 'Vem a Nós!' é o dia em que Osíris disse ao Sol:
Vem! Eu o vejo reencontrando o Sol no Amenti.”
— Paul Pierret, "Le Livre des Morts".
“Ouve o Recado nosso, Alma leal!...
... Sentimos teus ais!... Não estás a sós!...
Somos um,... só um!... Somos todos nós
Uma Luz de harmonia sem igual!...
... Tu voltarás à Catedral Natal
— Após a Lua e Vênus, nos Faróis
Da Liberdade! — A oculta, viva Voz
Ouvirás, conduzindo-te ao Portal!...
No Grande Dia, há de brilhar o Selo
Da Paz no Norte, Sul, no Leste e Oeste,
Numa irradiação do sete-estrelo...
... No Grande Dia, vem ao Lar Celeste
Seguindo os rastros que deixaste pelo
Vale onde tu outrora já estiveste!”...