NÃO SER
É como se fosse apartado
do tempo escorrendo adiante
das vistas soturnas, arfante
e ardesse o vazio, enjaulado.
Sem ontem nem hoje, futuro,
projetos e esperas luzentes
comidos por vermes com dentes
que habitam o corpo monturo.
Cruel descoberta: é que o nada,
ainda que aéreo de ausências,
opera, à mestria, o doer.
E numa existência escavada
no estéril das inexistências,
se alastra o amargor de não ser.