NÃO SER

É como se fosse apartado

do tempo escorrendo adiante

das vistas soturnas, arfante

e ardesse o vazio, enjaulado.

Sem ontem nem hoje, futuro,

projetos e esperas luzentes

comidos por vermes com dentes

que habitam o corpo monturo.

Cruel descoberta: é que o nada,

ainda que aéreo de ausências,

opera, à mestria, o doer.

E numa existência escavada

no estéril das inexistências,

se alastra o amargor de não ser.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 15/02/2016
Código do texto: T5544599
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