Poeta livre pensador

Luiz Carlos Pais

 
 
O soneto abaixo transcrito é de autoria do meu pai, José Paes, que exerceu a profissão de sapateiro e também era poeta autoditada. Nascido em 1922,  durante muitos anos de sua vida também defendeu suas convicões ideológicas de esquerda. Por esse motivo foi preso duas vezes, inclusive em 1964. Tendo falecido em 2011, ele deixou uma vasta produção literária inédita que estou divulgando, pouco a pouco, nesse espaço, com o consentimento dos meus irmãos e de minhas irmãs, no sentido prestar uma homenagem à sua memórica. O soneto abaixo, ao que parece-me, foi escrito no difícel estilo alexandrino, e expressa parte do seu pensamento em termos de espiritualidade e ciência, acreditanto na possibilidade de sempre dar explicações racionais, científicas e lógicas para todos os fenômenos. Um pensamento aliado do chamado iluminismo. Ele nunca frequentou nenhuma igreja ou mesmo agrupamento religioso. Em sua juventude andou lendo os postulados de uma corrente filosófica que estava em voga no início do século XX, chamada "livre pensadores", que foram ferrenhos críticos da Igreja Católica. Viajores em quatro dimensões, segundo minha leitura, epxressa aspectos  desse tipo de crença absoluta nas ciências que ele compartilhou com seus amigos. Não penso assim, mas aprendi com ele a respeitar as diferenças em relação às escolhas das outras pessoas.

Viajores em Quatro Dimensões

                    José Paes
 
Eu vôo em pensamento assim como poeta,
mais leve e tão veloz qual divo passarinho,
preferindo fazê-lo em silêncio e sozinho.
tomando direção inteiramente reta.
 
Tu voas, meu irmão, de maneira secreta,
cruzando-te comigo e a seguir teu caminho,
Na dimensão primeira, a pensar, me encaminho,
enquanto na segunda o enlevo te projeta.
 
Ele voa também, mas em outro sentido:
na dimensão terceira atira-se, veloz,
embora saiba ser o espaço indefinido.
 
E na quarta, por fim, temos ainda assomos,
pois, Einstein quer assim e assim fazemos nós:
viajores sutis, no tempo, todos somos.