ÉCFRASE
ÉCFRASE
Era um silvo agudo entre alguma fresta,
Que se ouvia do vento pela casa
E ainda o gotejar que aos canos vaza
Entremeando a modorra vã da sesta.
Enquanto dormitava, suava a testa.
Como os olhos ardessem quase em brasa,
Tinha do pernilongo um zunir d'asa
Varejando-me em roda a fazer festa.
Morna, a tarde me pesa os membros
Ao passo que o mormaço dos dezembros
Parece enlanguescer-me o corpo todo.
Mas sonhava d'amor assim violento
Que ao quadro que a vós-outros apresento
Por nenhum desconforto me incomodo.
Betim - 25 01 2016