Inexoravelmente, o muro
A bela cintilância que despeja
o brilho do luar que vai raiado
tinge de prata o verde do gramado,
a água sem cor e o rubro da cereja.
Mas na clara amplidão não há quem veja,
entretanto, decrépito e entrevado,
o corpo que revolve-se agoniado,
que afasta a fria boca que, atra, o beija.
É que a morte, implacável, sempre alcança
o ósculo postimeiro em nossos lábios,
dissipando os resquícios de esperança
que ainda luzem, tão pálidos, no obscuro
do homem, que embora rico, grande ou sábio,
sempre padece aos pés do mesmo muro.