Sonetos de José Paes
Luiz Carlos Pais
Luiz Carlos Pais
Para divulgar a obra poética deixada pelo meu saudoso pai, o poeta e sapateiro José Paes, que passou quase toda a sua vida em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, esta biografia didática pretende registrar três sonetos. Um dos seus primeiros versos alexandrinos, Debaixo de um Pinheiro, foi escrito em 1942, quando ele estava com 20 anos de idade. Esse soneto foi publicado no jornal A época, um semanário dirigido pelo jornalista Roberto Scarano, um pioneiro do movimento trabalhista local, quando liderou a criação da Federação Sindical Trabalhista Sul de Minas, em 1933. Quando José Paes publicou o referido soneto, ele trabalhava como oficial na Sapataria do Luquinha, como era conhecido o imigrante italiano senhor Lucas Bertucca. Um dos destaques dessa poesia é o fato de cada verso ser constituído de doze sílabas como exige o estilo escolhido pelo meu pai. O segundo soneto abaixo reproduzido, Dama da Noite, foi inspirado pelo envolvente perfume exalado por uma bela árvore existente no jardim da nossa casa, plantado ainda por minha saudosa mãe, Terezinha Lizarelli Paes. Considerada como uma fragrância muito envolvente, nesse soneto, o poeta continua em seu estilo de iniciar os versos, deixando suspenso o objeto real de sua inspiração. Para finalizar, Compondo um Soneto foi escrito para falar sobre o método que ele desenvolveu em sua trajetória autoditada. Não muito raro, algumas pessoas o procuravam, perguntando-lhe como ele fazia para escrever seus sonetos e manter essa prática por décadas.
Debaixo de um Pinheiro
José Paes
Quando minh’alma chora e fica entristecida
Nos dias de amargor, que passo nesta vida,
Eu me dirijo, a sós, á sombra de um pinheiro
Que nasceu e cresceu no meio do terreiro.
Pois eu ali ficando, elevo o pensamento...
E tenho ânsias de alçar, de alçar ao Firmamento,
Que é infinito e azul, tão azul qual anil,
Onde reinam os sois, onde estão astros mil...
Vejo, de quanto em vez, os mansos passarinhos
Por sobre a verde fronde, onde há pequenos ninhos
E por vê-los ali, felizes, saltitantes
Eu fico jovial nesses mesmos instantes...
Enquanto eu fico ali, sinto minha pobre alma
Alegre, satisfeita, ... e gózo de uma calma.
Dama da Noite
José Paes
Vieste para mim tão pequenina
Trazida em berço improvisado e frio,
e neste rórido lugar sadio
cresceste e cumpres perfumada sina.
Tua fragrância é doce, e rara, e fina,
e com ela, de noite, eu me inebrio.
Quando a sazão é do aquecido estio,
mais solta-a tua flor alabastrina.
Não sei ainda o teu nome verdadeiro,
é ser dotado de sublime cheiro,
mesmo a sofrer da ventania o açoite!
No entanto, dizem muitos que te chamas,
talvez pelo perfume que derramas
depois que o Sol se põe, Dama da Noite.
Compondo um Soneto
José Paes
Primeiro, no escritório, a sós, me tranco.
Depois, munindo-me de um lápis preto
e a folha de papel bem liso e branco,
escrever mais uns versos me prometo.
Tomando assento num macio banco,
sobre a mesa inicio um poemeto
cuja forma prefiro, sendo franco,
por ser a conhecida por soneto.
Espero mais, após silentes horas,
coordenar regras, rimas mais sonoras
e a métrica essencial, deste poema.
Rimados entre si são os quartetos
e igualmente, entre si, os dois tercetos,
e a perfeição, quero eu que a sorte dê-ma.
Campo Grande, MS, 24 de Janeiro de 2016
Debaixo de um Pinheiro
José Paes
Quando minh’alma chora e fica entristecida
Nos dias de amargor, que passo nesta vida,
Eu me dirijo, a sós, á sombra de um pinheiro
Que nasceu e cresceu no meio do terreiro.
Pois eu ali ficando, elevo o pensamento...
E tenho ânsias de alçar, de alçar ao Firmamento,
Que é infinito e azul, tão azul qual anil,
Onde reinam os sois, onde estão astros mil...
Vejo, de quanto em vez, os mansos passarinhos
Por sobre a verde fronde, onde há pequenos ninhos
E por vê-los ali, felizes, saltitantes
Eu fico jovial nesses mesmos instantes...
Enquanto eu fico ali, sinto minha pobre alma
Alegre, satisfeita, ... e gózo de uma calma.
Dama da Noite
José Paes
Vieste para mim tão pequenina
Trazida em berço improvisado e frio,
e neste rórido lugar sadio
cresceste e cumpres perfumada sina.
Tua fragrância é doce, e rara, e fina,
e com ela, de noite, eu me inebrio.
Quando a sazão é do aquecido estio,
mais solta-a tua flor alabastrina.
Não sei ainda o teu nome verdadeiro,
é ser dotado de sublime cheiro,
mesmo a sofrer da ventania o açoite!
No entanto, dizem muitos que te chamas,
talvez pelo perfume que derramas
depois que o Sol se põe, Dama da Noite.
Compondo um Soneto
José Paes
Primeiro, no escritório, a sós, me tranco.
Depois, munindo-me de um lápis preto
e a folha de papel bem liso e branco,
escrever mais uns versos me prometo.
Tomando assento num macio banco,
sobre a mesa inicio um poemeto
cuja forma prefiro, sendo franco,
por ser a conhecida por soneto.
Espero mais, após silentes horas,
coordenar regras, rimas mais sonoras
e a métrica essencial, deste poema.
Rimados entre si são os quartetos
e igualmente, entre si, os dois tercetos,
e a perfeição, quero eu que a sorte dê-ma.
Campo Grande, MS, 24 de Janeiro de 2016