Sonetos de José Paes
 
Esta crônica biográfica tem o objetivo de registrar a produção poética de José Paes, meu saudoso pai, falecido em 2011, às vésperas de completar 91 anos. Desde a sua juventude, trabalhando como sapateiro, ele se dedicou à arte de escrever sonetos, tendo preferência pelos chamados versos alexandrinos. Cumpre observar que desde a sua adolescência ele recebeu forte influência do rico ambiente literário da cidade de São Sebastião do Paraíso, MG, onde há 30 anos um grupo de amantes das artes fundou a Academia Paraisense de Cultura. José Paes estava entre os fundadores dessa importante instituição. Coube-me a prazerosa de organizar e divulgar o seu acervo poético. A seguir três sonetos de sua autoria são reproduzidos com o propósito de preservar sua produção.

As Nuvens
                                   José Paes
 
Algumas nuvens parecendo garças,
Formam esparsas e erram pelos céus,
Mas lentamente, todas se enlaçando,
Vão se esgarçando como tênues véus...
 
Outras pairam, informes e altaneiras
Hora inteiras, plenas de torpor,
Para depois sumirem-se no império
Do campo etéreo de nitente alvor.
 
Outras ainda, à noite já, serenas,
Como falenas de asas colossais,
Tomam feições de encanto peregrino,
Mas o destino lhe é como o das mais...
 
Também aos céus de nosso pensamento,
De modo tento, pairam sonhos mil.
E somem-se depois, como os vapores
De várias cores lá nos céus de anil...
 
Benemerências
 
                        José Paes
 
Além de ser palavra doce e bela,
benemerências é uma virtude nobre.
mormente quando nós nos vemos nela
e com seu manto, então, alguém se cobre.
 
Quando a pessoa, digna se revela,
seja instruída ou de cultura pobre,
more em palácio ou casa de favela,
essa virtude logo se descobre.
 
E não é tão somente por dinheiro
que, às vezes se enobrece um povo inteiro,
ou surja um bem por este mundo afora,
 
pois a benemerência é áurea virtude,
na infância, na velhice ou juventude,
e até no verso, como dá-se agora.
 
Centenário de Paraíso
 
                        José Paes
 
Adorada e gentil Paraíso,
de teus filhos bendito sacrário!
Entre danças, canções e sorrisos
comemoras o seu centenário.
 
Adornada de luzes e flores,
transbordante de graça e alegria,
estendendo dezenas de cores,
tu estas a brilhar nesse dia.
 
Este povo que vive em teu seio,
trabalhando por tua grandeza,
se apresenta de orgulho tão cheio,
nesta data de glória e beleza.
 
Salve, salve, querida cidade
dos ipês e de um povo pujante!
Faz cem anos que tens liberdade
e hoje estas mais festiva e exultante.
 
Adorada e gentil Paraíso,
de teus filhos bendito sacrário!
Entre danças, canções e sorrisos,
comemoras o seu centenário.
 
 
Campo Grande, MS, 22 de Janeiro de 2016