MINHAS CINZAS
Uma roseira com rosas violetas,
Dia e noite eu vejo reclinada,
Derramando fragrância tão discreta,
Sobre minha última e fria morada.
Até aqui foi uma viagem só de ida,
A travessia que fiz foi solitária,
Cortei todas as raízes na partida,
Tudo que ao fútil mundo me prendia.
Fui, um dia, feliz; fiz do amor a minha voz,
Qual rio que serpenteando procura a foz,
Pois no abraço do oceano quer repousar...
Assim jazo, sob o céu e esta roseira,
Ouvindo as aves cantar horas inteiras,
Eu, que queria minhas cinzas sobre o mar...
© Ana Flor do Lácio