PASSIONAL

PASSIONAL

Fora a sua beleza quase estorvo

E, cada olhar que atrai, espelho turvo.

Pois seu corpo -- de talhe tão recurvo --

Mais prometera o mel que jamais sorvo.

Atônito ao grasnar de negro corvo,

Acompanho-lhe ao longe o voo acurvo.

Talvez fosse um augúrio... Mas me curvo:

Eu tudo observo; muito pouco absorvo.

Teus olhos, como os meus, cheios de reservas

Veem, cuidadosos, todos os alarmas

A fazer de dor e alma irmãs e servas.

Vejo desilusões onde veem carmas...

Pois que se o fado não envenena ervas,

Tampouco municia ao amante as armas.

Betim – 12 01 2015