Nosso primeiro encontro
"A água, em conjugação com a terra nua,/ Vence o granito, deprimindo-o... O espanto/ Convulsiona os espíritos, e, entanto,/ Teu desenvolvimento continua!"
(Augusto dos Anjos)
Nosso primeiro encontro
Foi numa tarde de domingo sem lume
Nosso encontro à beira de um mar ignoto
Do leste soprava uma brisa de azoto
Formando uma densa nuvem de betume
Precipitou chuva negra de chorume
Sujou a areia, entupiu bocas de esgoto
Com a água vai junto o meu corpo escroto
No enredado do seu viscoso azedume
No local um negror funesto se espalha
A luz do sol só chega aqui de mortalha
Em densa aragem repleta de plutônio
Como em teus olhos que são cegos pra alvura
Voraz olhos a tolher minha candura
Me reduzindo a eleita do demônio
(Edna Frigato)
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"O homem, que nesta terra miserável,/ Mora, entre feras, sente inevitável/ Necessidade de também ser fera."
(Augusto dos Anjos)
NOSSO PRIMEIRO ENCONTRO
Foi numa tarde de domingo enigmática
Que te encontrei primeira vez à beira mar,
Havia um toque, de primavera pelo ar...
Primavera seca, venenosa, acromática!
Desaba o céu em chuva negra de chorume,
Suja a areia, entupindo as bocas de esgoto,
Levando junto, meu ignóbil corpo escroto,
Com a violência, do seu viscoso azedume,
Nesse local, um negror funesto se espalha,
A luz do sol, chega somente com mortalha
Em caixas pretas, abarrotadas de plutônio...
Aqui, seus olhos vis, são antítese da alvura,
Olhos carnívoros, a devorar minha ternura,
Me transformando, na preferida do demônio!
(Edna Frigato)