O JARDINEIRO




He thought he saw an Argument
That proved he was the Pope(…)
Lewis Carroll



I.

Supondo canto o ruído em seu canteiro,
Sem tino, aborta uns brotos – já não dosa
O após ao gesto em transe.A tarde, idosa
Madrasta, o induz ao erro mais grosseiro.
E a poda, meio a esmo e sem roteiro,
Não poupa dália, cravo, lírio ou rosa.
Atento ao quanto escuta, a mão raivosa
Devasta o que era rara vista e cheiro.
Será que só fará o que der na telha
Enquanto em canto a voz da vespa imunda
Dilui seu tino, amor de puta velha?
A tarde passa e não há quem confunda
Anseio e medo – ou mesmo vespa e abelha
Se alguma delas mira a gorda bunda.

II.

Retorna a cada dia e busca os pomos
E as flores mais escassas do jardim
Que insiste em ser tão só o playground de gnomos
Felizes – ah, essas caras de pudim!
Nem liga se no chão, no qual já somos
Inúmeros, partimos sem festim,
Faz pouco de razões, de quando ou comos
Se a busca, em tudo vã, não traz seu fim.
Retorna, e o que lhe custa o anseio, agora?
Contar seus passos junto a algum canteiro
Sem qualquer pressa à face sonhadora.
A angústia muda as estações e eu mudo
Meu modo de abordar o derradeiro
Banido do Jardim melhor em tudo.




 
Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 16/12/2015
Reeditado em 24/12/2015
Código do texto: T5482403
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