OLHOS D’ÁGUA

OLHOS D’ÁGUA

Porque nada disseste de teu medo.

Vejo como através d’uma vidraça:

Se não sem razão choras à luz baça,

Tampouco tens das lágrimas segredo.

Mesmo qu'eu as houver por arremedo

D'outro insidioso mal que te perpassa,

Não soube de teus olhos a desgraça

Que, úmidos, os lavara desde cedo.

Jamais penetrarei em tua treva

Que, apesar de nublada, não sabia

Mais que um filete d'água em chuva fria.

Porque nada disseste já de novo.

Sinto que teu silêncio todo me leva;

Penso que tanta névoa em vão removo...

Belo Horizonte – 20 10 2001