Peregrino
A noite fia seu manto interminável
de escuridão. Cumpre a lua sua sina
e, toda nua, se encolhe na neblina,
leve véu de um encanto imperscrutável.
Sombras ao vento brincam de esconder;
há um cheiro de mato, um gosto de amora,
e a umidade do orvalho da aurora
rega ao fim da noite o amanhecer.
Eu estou já desde ontem acordado,
remexendo em meu álbum de lembranças.
Peregrino de tudo que é andança,
nesse meu olhar pálido e cansado
que tudo vê opaco, empoeirado,
inda se oculta um brilho de esperança.