COMO KEATS

COMO KEATS

Também eu tenho escrito, triste, n'água.

Não há como negar: Isto é loucura...

Ou algo a me surpreender na noite escura

Consumindo-me por paixões em frágua.

Às vezes é tão funda a minha mágoa,

N'essa -- quiçá... -- Aquática escritura,

Que não me tolho mais qualquer censura

Ante o ilegível verso que aí deságua.

Quer lágrima ou palavra, n'água o verso

Irremediavelmente está disperso,

Como a vida, aliás, se vê fadada.

Sem ter modernidade ou eternidade,

-- Antes precária e efêmera verdade... --

Aqui um que escrevera, mas no nada.

Belo Horizonte – 13 05 2001