Da vez primeira

Ao microfone, minha honra é ouvida.

À minha mente, de súbito, ouço.

Lá na frente, sentado, há um moço

Que, unidas pernas, me olha e convida.

Meu olhar, negro tal um poço,

Se perde nas palmas, onde a vida

Chega a pesar, posto árdua subida

Que me guia ao palco a puro osso.

Domado por uma ânsia brutal,

Inicio minha labuta oral

A fim de dar fim ao suplício:

Esse sofrimento que é recitar

A poesia, que de tanto ousar,

Tem-me escravo desse meu ofício!