POEIRA NO AR
A vida é poeira caindo ao acaso,
no grito estridente, arruaceiro do agora
que intenta anular alaridos do outrora,
sem tempo marcado, limites e prazo.
Girando, atrasando o ignorado destino,
às vezes se deita, à mercê de um ensejo,
nas penas macias de pássaro a adejo
e noutras se perde no vento malino.
E segue a poeira em raiares, poentes,
se espalha, alcançando rincões diferentes
dispersos no mundo de igual compleição.
Mas nada lhe impede o constante declínio,
tão frágil, sugada ao sombrio domínio
do chão que lhe acolhe a fatal extinção.