A mais bela, doce e vil mortalha
Lançado arfante e exânime, ao relento,
co' a derradeira força eu busco o alívio
do ar que escapa às narinas, num ambívio
obscuro entre o riso e o sofrimento.
Sem mais nenhum desejo, fé, intento,
e alheio ao duro fardo do convívio,
dos homens todos sobeja-me o oblívio,
no pandemônio que é seu pensamento.
A vida some e a morte é uma macega,
que embora alheia ao sonho que renega,
é a trégua de um ser que muito batalha.
Deixo o meu corpo, a sórdida ruína,
que do tecido fino da neblina,
tece a mais bela, doce e vil mortalha.