ARCÁDIA ULTRAMARINA - locus horrendus

ARCÁDIA ULTRAMARINA - locus horrendus

para Manoel Maria Barbosa du Bocage, o Elmano

Queria não ser tão mórbido poeta.

Tradutor da dor... Traidor da vida...

A ver as coisas já de despedida

Para d’isso extrair uma frase abjeta.

Queria não ser outro vil sem meta,

Cuja história, já há tempos esquecida,

Houve, há e haverá como se nunca havida,

Feito obra que quedou incompleta.

Queria... Mas sou. Não, não sou nada

À espera do terrífico... Ou melhor,

Local horrendo à escura encruzilhada.

A morte faz-se bela ao vago horror:

Abdico-me à ilusão da hora passada

Para, ao morrer, deixar já toda dor...

Betim - 12 12 1996