O grito
Aquém dos verdejantes arvoredos,
dos lentos rios, ínfima emoção,
embora diminuta, tolhe a ação
do corpo e o predestina aos vis degredos.
Sobrevive e alimenta-se dos medos,
mastiga tudo o que há no céu e chão.
Ó, parasita impuro da abjeção,
que só não rói lembranças e segredos.
Uma ânsia de ousadia aturde-me a alma,
um mundo desabrocha no meu corpo,
mas é retido numa amarga calma...
Preciso abrir a boca, ó carga tanta,
para que escapes, duro peso morto,
Ó voz há muito presa na garganta!