SONETO DO MEU DESENCANTO
Quiçá a vida isente-nos de tantas amarras
E da sensação enfadonha e indigesta da ira
Retire do espírito as potentes garras
Que, sem compaixão, esvaem o som da lira!
Quiçá a infância edite o adágio das cigarras
A embalar a solidão em acre mentira
Construída em sonhos e imagens bizarras
Da razão, que indefesa e débil, expira!
Pois, é a repugnância que ora a mim silencia
É a desesperança a sangrar funda e calma
Qual a noite que ao fim do dia a luz espalma
E no despudor a escuridão prenuncia
Num arremedo de consciência tardia
A rematar com pesar minha triste alma!