CHUVA FINA
A chuva fina cai à revelia,
Como a tocar piano na vidraça,
Dando aos telhados uma assepsia,
Enchendo as ruas de charme e graça.
Nos guarda-chuvas faz estrepolia,
Na pressa das pessoas pela praça;
A sua dança é como acrobacia,
Molhando a cabeça de quem passa...
Mas para mim é dor que alucina,
Pois foi num dia, assim, de chuva fina,
Que meu amor se foi e não devia...
E, desde então, chuva fina e ingrata,
Cai dos meus olhos feito uma cascata
De solidão, saudade e agonia...