TRÍPTICO - O PAI

TRÍPTICO

O PAI - painel esquerdo

Havia nos seus olhos tamanha ânsia,

Mirando -- para além da morte -- o nada,

Que a alma se lhe fugia p’la mirada

A buscar um sentido na distância.

Era o próprio retrato da inconstância.

Por sob uma luz pouco afortunada,

Trazia agora co’a face enrugada

Um sorriso da vã segunda infância.

Esquecido à poltrona em que jazia,

Sentava-se curvado sobre o abdome

Enquanto perscrutava o fim do dia.

Mas tinha algo que nunca se consome

E como que a lembrar-se que existia,

Quedava a repetir o próprio nome...

* * *