Soneto ao Tédio

Vejo o sol, sem par, tocar a mesa,

E sinto da janela, devir da brisa,

Entorpece-me sentidos, e humaniza,

Meu definhar lento, essa vagareza.

Sou do tempo essa moribunda presa,

que a poeira dos tapetes satiriza,

poeira que ilude o enredo à guisa,

de Farsa sobre minha não-presteza:

Ri-se a poeira desde o chão vadio,

de eu não ser nada senão o fastio,

de eu não ter nada senão ao tédio,

essa mesmice que de mim se apossa,

essa lerdice, lesão que me acossa,

e que tem na morte melhor remédio.