O SONHO DO CÃO ARGUIDO
Ainda o som do tiroteio ribombava -
Num rol de vidas em contínuo sobressalto -
E já três vítimas jaziam no asfalto
Sem razão aparente, que se lamentava…
A feroz mira da caçadeira esgotava
A sede de vingança, num cobarde assalto,
Que desta vez ali gritava muito alto
O que o aval da justa lei não reparava.
Mas, afinal, quem perpetrou esta agressão?
Onde é qu´ está o busílis deste acontecido?
Dizem ter sido um cão, porém já falecido…
Antes dizia-se: “Foge, cão, que te fazem barão”.
Agora, ir-se-á dizer, perante o alarido:
Aguenta, aguenta cão, que te fazem arguido!
Ao ver este espectáculo, entre a vida e a morte,
Já consagrou o povo, em boa tradição:
“Até para ser cão é preciso ter sorte!”
Frassino Machado
In ODIRONIAS