Cegueira

Já não quero esta Lua de agasalho,

Nem mesmo quero as noites e o sereno.

Estanca o seu abraço que é pequeno,

Dá-me somente a sopa, mas sem alho.

Não aceito as promessas nem o vinho,

Eu só quero o concreto e o que é tangível,

Mesmo que não esteja-me legível,

Pois pássaro eu não sou, nem tenho ninho.

Não tenho mesmo nada nem um pouco,

Mas eu tenho uma fome que não passa,

Um frio que não vai, tenho mordaça

Que faz-me ora mudo, ora louco.

Sou apenas um resto social,

O tal menino pobre, marginal.