Soneto da toda espera

Procure, amor, o aclarar dos cantos

quando o primeiro céu luminescer.

É a mesma cor azul dos acalantos,

o mesmo vento bom de se colher.

E assim, amor, ao bambear dos sisos,

quando do nada te procuro em mim,

verás que estás perdida em outros risos?

Por Deus! será que um dia vens a me querer assim?

A cada mil sonetos que te escrevo,

fogem-me os dedos rumo aos teus desejos

e à curva aurora, luz de um sentimento.

Findo ao amor, fogueira a que me atrevo,

pois sois pra mim a tarde que não devo,

apenas um pedaço de momento.